quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Noventa minutos de silêncio



Todos têm conhecimento do que ocorreu na primeira partida do Corinthians pela Libertadores. A história do garoto Kevin, atingido por um sinalizador, o levando ao falecimento, tirou a torcida corintiana do estádio. No dia seguinte à morte do garoto, a Conmebol já havia aplicado uma medida cautelar, determinando ao Corinthians que jogue as partidas em casa com portões fechados.


Mesmo o clube tentando reverter a pena, alegando que ainda seria necessário aguardar a decisão final, o recurso foi negado, ao menos enquanto não houver o julgamento, que tem um prazo estipulado pela entidade Sul-americana de 60 dias.


O Corinthians entrou em campo sem o Bando de Louco, justamente porque alguém do bando tirou a vida de uma pessoa dentro do estádio. Sim, tirou uma vida de alguém que como a fiel ou qualquer outra torcida foi exatamente incentivar seu time e acabou não voltando mais pra casa.


Portões fechados, time de um lado, time do outro, reservas, técnicos, comissão técnica, jornalistas, um helicóptero barulhento que (mais que o normal) sobrevoava o Pacaembu e quatro torcedores. Sim. Quatro. Eles conseguiram uma liminar que permitisse a entrada no estádio, pois já haviam garantido o ingresso, e se acharam no direito de esquecer que houve uma morte e colocaram o clube acima de qualquer tragédia.


O “um minuto de silêncio” se estendeu por noventa minutos para a torcida, (interrompido pelo apito; pelo helicóptero; pela comunicação em campo e pelos gols do time) que longe do estádio, ficou de fora do espetáculo que é uma partida de futebol. Mas que foi somente a consequência de alguém que esqueceu o verdadeiro sentido do esporte e foi à arquibancada mostrar seu lado “desportivo”.


Que depois do acontecido, o torcedor tenha plena consciência de que o time precisa de incentivo e não de alguns que torcem pela violência nos estádios. Para que não sejamos todos punidos pelos minutos de silêncio.

Revisado por Marcos Teixeira

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O que é que a várzea tem



Recordo-me de uma época em que eu cheguei a pular o muro de um campinho para simplesmente assistir a uma partida de futebol. Assistia daqueles jogos de times de rua, os amistosos e até mesmo os campeonatos. Acordava cedo, em pleno domingo, em plena São Vicente. Era jogo de várzea e ali os jogos mais divertidos que eu acompanhava.


Parei com isso e comecei a frequentar estádios: Vila Belmiro, Canindé e Palestra Itália. Ai, era futebol profissional, também uma grande paixão. Parei de ir ao Urbano Caldeira, nunca mais frequentei o Osvaldo Teixeira Duarte, não sei ainda o porquê, mas o Parque Antártica, pelo amor ao Palmeiras, continuou fazendo parte de mim.


Passaram-se os anos e eis que a várzea voltou a fazer parte da minha vida, mas agora no ofício de jornalista. Comecei com um documentário e nele conheci histórias que só a várzea conta e despertou novamente meu anseio pelo futebol que quase ninguém vê.


O profissional é sim, uma paixão, algo que faz parte de mim. Mas, a várzea pelo que é, pelas histórias, o torna algo mais especial e hoje o amador mostrou o real motivo que me levou a ele. Mesmo com muita chuva, o VI Encontro dos Amigos da Várzea reuniu os apaixonados por este esporte varzeano.


De olhos atentos no gramado e no público, vi o espírito de união que envolve estas pessoas, que, não se importando com o time que jogam ou que torcem, mesmo não jogando e não torcendo, estavam lá, com o intuito de fazer do futebol, o motivo de alegria daqueles que tem o jogo gramado das quatro linhas uma paixão.


E é isso o que a várzea tem: futebol.

( IV Encontro de Amigos da Várzea - CDC Anhanguera - Imagem de arquivo pessoal)
 Revisado por Marcos Teixeira

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


"E ele foi, me deixou aos prantos. 
Deixou que o vazio tomasse conta do meu coração. 
E nem ao menos se despediu com sua ternura. 
Porque me trata assim, meu inspirador de sonhos. 
Porque não fica aqui e preenche meu vazio..."

(não pense que isso faz parte de um momento de tristeza e nem que se refira a alguém... mais uma inspiração pela madrugada... sem mais...)

Lá vem a vida


E eu que pensava que dessa vez daria certo, 
que seria mais fácil.
Mas, lá vem a vida 
e enche meu caminho de obstáculos.
E enquanto mais eu ando, 
mais e mais coisas me aparecem.
Não está sendo fácil, 
mas vou seguir como sempre faço.
Pois sei que depois de tudo isso 
terei mais um sonho realizado.
E a vida é assim: seguindo, caindo, levantando 
um dia eu chego lá...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Falta

O coração sente falta.
Sinal que por dentro existe alguém.
Este alguém talvez inesperado
que começa a mexer com 
um sentimento adormecido.

A falta das palavras, 
do olhar, sorriso, abraço.
Falta da sensação de 
que o coração está vivo.

Coração vivo porque
começa a aceitar que 
a vida pode surpreender
e nos trazer um sentimento,
talvez o mais belo:
a falta daquele alguém especial.

Especial por ser somente ele e 
não precisar das máscaras da vida
para encher um coração de vida.
Vida esta que havia se perdido
pelos percalços da vida.

Mas a falta vem e preenche
o coração de vida.
E ela está aí pra ser vivida,
mesmo com a falta...

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Poder e pudor


Há alguns anos, o Senado Federal, casa outrora ocupada apenas por pessoas de reputação ilibada, era presidido pelo senador alagoano Renan Calheiros. Renan fora Ministro da Justiça durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Ele, Calheiros, é um dos fundadores do PSDB, opositor ferrenho do governo Lula e, agora. de Dilma Roussef, e de tantos outros vierem.

José Sarney, por sua vez, era membro da Aliança Renovadora Nacional, ARENA, partido criado durante a década de 1960 para dar sustentação à ditadura militar, e chegou à sua presidência. No fim da década seguinte, a ARENA virou o PDS (atual PP, o partido do Maluf), que rachou durante o processo de sucessão do presidente Figueiredo.  

Renan Calheiros foi um dos mentores da candidatura de Fernando Collor à presidência, de quem era opositor em Maceió. Sarney era o presidente da República, cargo que herdou com a morte de Tancredo Neves, eleito pelo colégio eleitoral. Tancredo precisou dos votos dos dissidentes do PDS para derrotar Maluf, e foi aí que Sarney embarcou.

O alagoano chegou à presidência do Senado, cargo que ocupou até renunciar em 2007, devido a denúncias de que tinha contas pessoais pagas por um lobista ligado a empreiteiras. Sarney, por sua vez, foi acusado de promover uma série de medidas no mínimo questionáveis, os chamados "Atos Secretos", que não resultaram em absolutamente nada. Sarney contou com a blindagem do governo federal. Tudo em nome da governabilidade "deste país".

Hoje, primeiro dia de fevereiro, mês do Carnaval, Renan é reconduzido à presidência da casa, sucedendo José Sarney. Em seu discurso de posse, elogiou o bigodudo antecessor,  a quem se referiu como condutor do país no processo de redemocratização. Para ele, Sarney promoveu a transparência na política nacional e o fim da censura. Para quem não sabe, o jornal O Estado de São Paulo está proibido de divulgar fatos sobre a operação Boi Barrica, que tem como um dos investigados Fernando Sarney, primogênito do velho Sarney, o arauto da moralidade e da transparência.

É grave? Sim, é muito grave. O Senado Federal, assim, será presidido por alguém que está sob suspeita de corrupção, e isso é público e notório, tanto que o PMDB, seu partido, só anunciou sua candidatura um dia antes da eleição, para evitar o desgaste do agora presidente e segundo nome na linha sucessória da presidente Dilma, logo abaixo do vice-presidente Michel Temer, também do PDMB, não por acaso partido de Sarney.

Se antes havia a necessidade se ser honesto, hoje nem é preciso ao menos parecer. Faz-se tudo sob a luz, já que ninguém liga mesmo. É como disse o senador pedetista Cristovam Buarque: "Já havíamos perdido o poder; agora, perdemos o pudor". Mas tudo bem, em fevereiro tem Carnaval. 
* texto publicado por Marcos Teixeira no Blog Bola de Bigode 
O autor é jornalista, assessor de imprensa da Portuguesa de Desportos, torcedor da Lusa, do Benfica e de Portugal. E criador do termo Barcelusa.