*por Marcos Teixeira
Há alguns anos, o Senado Federal, casa outrora ocupada apenas por pessoas de reputação ilibada, era presidido pelo senador alagoano Renan Calheiros. Renan fora Ministro da Justiça durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Ele, Calheiros, é um dos fundadores do PSDB, opositor ferrenho do governo Lula e, agora. de Dilma Roussef, e de tantos outros vierem.
José Sarney,
por sua vez, era membro da Aliança Renovadora Nacional, ARENA, partido
criado durante a década de 1960 para dar sustentação à ditadura militar,
e chegou à sua presidência. No fim da década seguinte, a ARENA virou o
PDS (atual PP, o partido do Maluf), que rachou durante o processo de
sucessão do presidente Figueiredo.
Renan Calheiros
foi um dos mentores da candidatura de Fernando Collor à presidência, de
quem era opositor em Maceió. Sarney era o presidente da República,
cargo que herdou com a morte de Tancredo Neves, eleito pelo colégio
eleitoral. Tancredo precisou dos votos dos dissidentes do PDS para
derrotar Maluf, e foi aí que Sarney embarcou.
O alagoano
chegou à presidência do Senado, cargo que ocupou até renunciar em 2007,
devido a denúncias de que tinha contas pessoais pagas por um lobista
ligado a empreiteiras. Sarney, por sua vez, foi acusado de promover uma
série de medidas no mínimo questionáveis, os chamados "Atos Secretos",
que não resultaram em absolutamente nada. Sarney contou com a blindagem do governo federal. Tudo em nome da governabilidade "deste país".
Hoje, primeiro
dia de fevereiro, mês do Carnaval, Renan é reconduzido à presidência da
casa, sucedendo José Sarney. Em seu discurso de posse, elogiou o
bigodudo antecessor, a quem se referiu como condutor do país no
processo de redemocratização. Para ele, Sarney promoveu a transparência
na política nacional e o fim da censura. Para quem não sabe, o jornal O
Estado de São Paulo está proibido de divulgar fatos sobre a operação Boi
Barrica, que tem como um dos investigados Fernando Sarney, primogênito
do velho Sarney, o arauto da moralidade e da transparência.
É grave? Sim, é
muito grave. O Senado Federal, assim, será presidido por alguém que
está sob suspeita de corrupção, e isso é público e notório, tanto que o
PMDB, seu partido, só anunciou sua candidatura um dia antes da eleição,
para evitar o desgaste do agora presidente e segundo nome na linha
sucessória da presidente Dilma, logo abaixo do vice-presidente Michel
Temer, também do PDMB, não por acaso partido de Sarney.
Se antes havia a
necessidade se ser honesto, hoje nem é preciso ao menos parecer. Faz-se
tudo sob a luz, já que ninguém liga mesmo. É como disse o senador
pedetista Cristovam Buarque: "Já havíamos perdido o poder; agora,
perdemos o pudor". Mas tudo bem, em fevereiro tem Carnaval.
* texto publicado por Marcos Teixeira no Blog Bola de Bigode
O autor é jornalista, assessor de imprensa da Portuguesa de Desportos, torcedor da Lusa, do Benfica e de Portugal. E criador do termo Barcelusa.
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